Porque a porta estava aberta... |
O bêbado entra na Igreja bem na hora em que o povo se preparava para fazer suas preces a Deus...
Com aqueles trapos, com aquele fedor de fezes, com aquele jeito que deixou todo mundo desconcentrado em meio a um silêncio quase arrebatador...
O povo ali continuava tentando e tentando conversar com Deus, mas nada de o bêbado deixar que concluíssem suas preces. Ele queria rezar. Ele queria fazer também suas preces. Mas rezava alto demais pra ouvidos tão acostumados com o silêncio.
As senhoras esgueiravam-se, usando seus véus para cobrir o nariz por causa do fedor que exalava daquele pobre homem. As crianças, aterrorizadas, subiam nos colos de suas mães. As moças, apavoradas, saíam de perto quando o pobre bêbado se aproximava...
Todo mundo ficou com medo daquela figura horrenda...
Até que alguém levantou-se e resolveu tirá-lo do meio do povo...
Quando ele saiu, voltou o silêncio e ficaram as reflexões...
Para Deus, aquele que chamamos de “bêbado”, “fedorento”, “sujo”, “sem vergonha”, Deus chama apenas de filho... Deus não tem um amor que distingue as pessoas, Ele nos trata com um amor igual!
Aquele homem queria apenas buscar suprir uma carência que o álcool não consegue mais suprir. Ele estava ali fazendo suas preces, como quem estava esperando pela última coisa que podia ser feita em seu favor.
O saudoso Padre Léo dizia que, “a oração do bêbado é a mais poderosa que existe”. Por quê?
Porque, estar embriagado e lembrar-se de entrar em um templo religioso na esperança de encontrar a Deus, é uma façanha incrível!
Talvez a voz do bêbado estivesse tentando chamar a atenção dos presentes para que seus ouvidos tornem-se mais sensíveis á voz de Deus que ecoa no próximo, mas como sempre, o ser humano só enxerga, ouve e pensa o que quer.
Enquanto julgamos, as pessoas morrem sem palavras de amor, de carinho, de afeto, de consideração, porque não temos tempo para acolhê-las! Não que acolher um bêbado que fala alto e fede seja fácil, não que amá-lo seja a tarefa mais simples de ser realizada, mas deveria valer á pena, pelo menos tentar...
Mesmo assim, mesmo com tudo isso, me parece que o caminho do amor e do acolhimento ao próximo é a via mais fácil para se encontrar a Deus!