O problema não é o problema, mas o que a gente faz com o problema. Entendeu??? |
Então
vamos lá... Platão atravessa os milênios para nos coroar com sua sabedoria
atemporal. “Tente mover o mundo — o primeiro passo será mover a si mesmo.”
Talvez seja por aí. O primeiro passo pode ser direcionar os holofotes para
dentro e começar a dar um passo de cada vez na medida do alcançável, pensando
em cada dia de forma fracionada, sob pena de se frustrar ainda mais. O que pode
ser feito neste exato minuto? A quem posso direcionar meu primeiro passo?
Milênios
depois de Platão, Bukowski, um pouco mais subversivo, soltou: “Qualquer
problema que você tiver comigo é seu.” Por mais estranho que possa parecer,
ambas as filosofias se intercruzam num ponto fundamental: o foco no eu. Se há
um problema entre João e Maria, o que existe, na verdade, são dois problemas:
um que João tem com Maria e outro que Maria tem com João. Se ela fez tudo o que
poderia para resolvê-lo, mas ele não, agora só há um impasse: o de João com
Maria. Check. Maria pode riscar aquilo de sua lista ou arrastar-se para todo o
sempre, a fim de que João enxergue seu ponto de vista.
Perceberam?
As complicações nas relações interpessoais não podem ser encaradas com um
espírito terceirizado e alheio que se resolve por si. O esforço há de ser, na
maioria esmagadora das vezes, mútuo. No fundo, elas nada são senão enfoques
diferentes sobre o mesmo problema, os quais devem ser individualmente
resolvidos. A verdade, portanto, é que as questões são solucionadas de forma
muito mais individual do que se pode imaginar.
Se
o problema, no entanto, não disser respeito a outros, mas, sim, a decisões
eminentemente pessoais, é provável que Platão, do alto de sua sapiência simples
— porém inegável — seja de grandíssima valia: para se mover mundos internos, é
necessário dar o primeiro passo e focar no próximo, procurando evitar o
desespero ao máximo.
É
bem verdade que a vida não é fragmentada. Não se podem abrir gavetinhas
temáticas. Um desequilíbrio no casamento, por exemplo, há de afetar a
profissão, como um tropeço na espiritualidade pode comprometer a relação pais e
filhos. No entanto, embora a vida em si não seja feita de pedaços, tentar
compreendê-la dentro das possibilidades que o dia de hoje oferece é uma chance
de fazer dar certo.
Bukowski
e Platão… Quem diria que pensadores tão diferentes poderiam se unir em prol de
um eu mais harmônico.