Canção do outro


Todo mundo, grande ou pequeno, pobre ou rico, quer e merece carinho e atenção do outro...


Que o outro saiba quando estou com medo, e me tome nos braços sem fazer perguntas demais.

Que o outro note quando preciso de silêncio e não vá embora batendo a porta, mas entenda que não o amarei menos porque estou quieto.

Que o outro aceite que me preocupo com ele e não se irrite com minha solicitude, e se ela for excessiva saiba me dizer isso com delicadeza ou bom humor.

Que o outro perceba minha fragilidade e não ria de mim, nem se aproveite disso.

Que, se eu faço uma bobagem, o outro goste um pouco mais de mim, porque também preciso poder fazer tolices tantas vezes.

Que se estou apenas cansado,  o outro não pense logo que estou nervoso, ou doente, ou agressivo, nem diga que reclamo demais.

Que o outro sinta quanto me doía a ideia da perda, e ouse ficar comigo um pouco - em lugar de voltar logo à sua vida.

Que se estou numa fase ruim,  o outro seja meu cúmplice, mas sem fazer alarde nem dizendo ''Olha que estou tendo muita paciência com você!''

Que, quando, sem querer eu digo uma coisa bem inadequada diante de mais pessoas, o outro não me exponha nem me ridicularize.

Que se eventualmente perco a paciência, perco a graça e perco a compostura, o outro ainda assim me me admire.

Que o outro não me considere sempre disponível, sempre necessariamente compreensivo, mas me aceite quando não estou podendo ser nada disso.

Que, finalmente, o outro entenda que mesmo se às vezes me esforço, não sou, nem devo ser, um super-herói, mas apenas uma pessoa: vulnerável e forte, incapaz e gloriosa, assustada e audaciosa – um ser humano...

(Adaptado da obra de Lya Luft)

De Platão da Bukowski: Qualquer problema que você tiver comigo, é seu!



O problema não é o problema, mas o que a gente faz com o problema. Entendeu???
Parece que sempre há momentos em que a vida parece estar mergulhada em um inferno astral ou algo parecido. É como se tudo o que nos liga à nossa existência — família, relacionamento, trabalho, amizades… — se unissem ferozmente para testar o fôlego da gente. De forma otimista, buscam-se justificativas um tanto quanto pedagógicas, nomeando-se as expressões negras de “teste divino”, “provação espiritual”, ou “alinhamento dos astros”. Não interessa a expressão, a verdade é que há vezes em que o dia a dia se torna um saco e parece que se está a um fio da autoimplosão.
Então vamos lá... Platão atravessa os milênios para nos coroar com sua sabedoria atemporal. “Tente mover o mundo — o primeiro passo será mover a si mesmo.” Talvez seja por aí. O primeiro passo pode ser direcionar os holofotes para dentro e começar a dar um passo de cada vez na medida do alcançável, pensando em cada dia de forma fracionada, sob pena de se frustrar ainda mais. O que pode ser feito neste exato minuto? A quem posso direcionar meu primeiro passo?
Milênios depois de Platão, Bukowski, um pouco mais subversivo, soltou: “Qualquer problema que você tiver comigo é seu.” Por mais estranho que possa parecer, ambas as filosofias se intercruzam num ponto fundamental: o foco no eu. Se há um problema entre João e Maria, o que existe, na verdade, são dois problemas: um que João tem com Maria e outro que Maria tem com João. Se ela fez tudo o que poderia para resolvê-lo, mas ele não, agora só há um impasse: o de João com Maria. Check. Maria pode riscar aquilo de sua lista ou arrastar-se para todo o sempre, a fim de que João enxergue seu ponto de vista.
Perceberam? As complicações nas relações interpessoais não podem ser encaradas com um espírito terceirizado e alheio que se resolve por si. O esforço há de ser, na maioria esmagadora das vezes, mútuo. No fundo, elas nada são senão enfoques diferentes sobre o mesmo problema, os quais devem ser individualmente resolvidos. A verdade, portanto, é que as questões são solucionadas de forma muito mais individual do que se pode imaginar.
Se o problema, no entanto, não disser respeito a outros, mas, sim, a decisões eminentemente pessoais, é provável que Platão, do alto de sua sapiência simples — porém inegável — seja de grandíssima valia: para se mover mundos internos, é necessário dar o primeiro passo e focar no próximo, procurando evitar o desespero ao máximo.
É bem verdade que a vida não é fragmentada. Não se podem abrir gavetinhas temáticas. Um desequilíbrio no casamento, por exemplo, há de afetar a profissão, como um tropeço na espiritualidade pode comprometer a relação pais e filhos. No entanto, embora a vida em si não seja feita de pedaços, tentar compreendê-la dentro das possibilidades que o dia de hoje oferece é uma chance de fazer dar certo.
Bukowski e Platão… Quem diria que pensadores tão diferentes poderiam se unir em prol de um eu mais harmônico.

Relógio

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