A fábula do Coronel e o Lobisomem


Vou contar para você como surgiu o boato do aparecimento do Lobisomem aqui no sítio Cipó...
Reza a lenda que, na década de 30, bem no meio da grande seca que assolava o Nordeste do Brasil, na Fazenda do Coronel Livino, lá pras bandas de Mauriti, no Ceará, havia um grupo de famílias que moravam na fazenda do Coronel, e por ser época de política, o mesmo chegou com seu candidato, o Dr. Antônio Prudente, que entrou na casa de Zé de Joca, seu morador, que era negro e muito pobre, e começou a falar:
- Ói Zé, esse daqui é meu cumpadi Dr. Antônio Prudente, que vêi lá de Fortaleza, pra me pedí uns votim e como eu sei que você e sua muié vive em minhas terra e não paga nada, é a vez de vocês me retribuírem essa gentileza.
O pobre do Zé, como a maioria do povo daquele tempo, era analfabeto, mas até que ele era bem esperto para alguém que passava tanta fome. Ele se vira para o doutor e dispara:
- Sim, seu dotô, e se o senhor ganhar, o que vai fazer por nós?
-Ora, respondeu o doutor, eu vou... eu vou, bem eu vou... Já sei, eu vou construir um chafariz aqui pra vocês!
- Oxente dotô, ligue pra esse pobre não, disse o coronel, ele é um afregelado, deixe que dele eu cuido.
- Ó o dedim, respodeu o Zé, tá pensando que eu sou besta é coronel? Nós passamos a vida toda lhe servindo, eu, minha mulher e meus filhos e agora o senhor quer mandar ninóis? Tenha calma que o voto é meu e eu dou a quem eu quiser. E tem mais, quem disse ao sinhô que nóis mora de favô aqui? E as dez sacas de feijão que nós lhe damos toda safra, são o quê, hein?
Vermelho de raiva, o coronel retruca:
- Omi Zé, dexe de bestage e vote logo no omi! Ele vai me dar o cargo... De que é mermo o cargo, dotô?
O silêncio e a dúvida pairavam no ar, quando o doutor responde:
- Cargo? Que cargo? Olha aí Josefina, na minha agenda, qual foi o cargo que eu prometi ao coronel Livino...
A secretária abre a agenda e responde:
- Doutor, aqui está escrito que o cargo será: Secretário das Secas.
- Oxi, tá ficando doida Josefina? Eu acabei de prometer esse cargo ao Coronel Antônio Luís...
- Mas tá aqui, doutor. Respondeu a secretária toda sem jeito.
- Ah bom, pois se não tiver uma coisinha pra mim, pode se retirar de minha fazenda, visse seu dotô, respondeu o irado coronel. E continuou a falar: Apois agora, nem eu, nem meus moradores vamos votar no sinhô, e se prepare que não é só isso não! Arribe daqui, vamo!
O doutor saiu, que o rabo era um rei, saiu sob os olhares risonhos das crianças da fazenda que nunca tinham visto um "dotô ali antes.
O resultado foi este: O doutor não se elegeu naquele ano, mas o Zé foi pai mais uma vez naquele ano, de um grande menino, a primeira criança negra da cidade, que depois veio a ser o primeiro Juiz Negro do estado, e quanto ao doutor, dizem que o coronel lhe rogou uma praga e ele está entre nós até hoje, portanto, se ouvir uivos á luz da lua, pode ser o doutor querendo o seu voto...



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