Crônica Urbana: O Almoço e a Prostituta

Ontem cheguei ao restaurante no horário do almoço e quando sentei á mesa, dei de cara com aquele tipo bem pitoresco, aquela mulher morena, quase negra, com aquele "shortinho", aquela blusa vermelha, aquela tatuagem com aquelas escritas verdes, aqueles cabelos cor de burro quando foge, com um pé na cadeira, outro no chão, conversando com um homem enquanto comia.

E esses olhos de ressaca Capitu?

Notei que todos, inclusive eu, não deixaram de olhar para aquela mulher que, ao contrário da famosa Capitu, não tinha olhos de ressaca, mas olhos de dureza, de noite mal dormida, de quem estava cobrando uma dívida por um serviço prestado...
Meu almoço chegou e ela terminava de almoçar e discutia com o homem que a acompanhava acerca de um troco que ele devia a ela, acerca de tantas outras coisas que ficaram subentendidas... Nessa hora eu pensei: "Ela só pode ser uma prostituta..."
Saindo com o seu companheiro de almoço, ela grita em alto e bom tom que não vai pra casa, mas vai pro CABARÉ e depois disse a ele que passasse por lá para "acertarem suas contas" e "repetirem a dose". Deu as costas e foi-se embora...
Desde então, não parei de pensar naquela cena, não que eu tenha prestado atenção naquele par de coxas,longe de mim, mas é que de uns dias pra cá, tenho tido uma profunda admiração pelas prostitutas, e sabem por quê?
Por que todas elas, assim como aquela mulher, não tem vergonha de assumir sua profissão, seu meio de vida. Elas não tem medo ou vergonha de assumir suas tatuagens com nomes de namorados ou suas marcas de violência. Na verdade, elas estão pouco ligando pra o que a sociedade pensa, elas são daquele jeito e pronto!
Tenho refletido ainda mais sobre a realidade da prostituição, pois, se a sociedade se choca com alguém que vende o corpo, que dirá com alguém que vende a alma? Que vende a opinião? A Fé? O Voto? Os sentimentos?
Ela só vende o corpo, e é julgada... Há quem venda seus pensamentos e sentimentos, mas ninguém julga... Por que será?
Por que estamos acostumados a viver de aparência, porque não aceitamos que a prostituição é mais que a profissão mais antiga do mundo, é uma chaga, uma ferida que corrói e tira a dignidade das pessoas, mas também revela que a nossa sociedade hipócrita ainda não está preparada para conviver com a verdade.
Aprendi uma grande lição... Mais vale uma prostituta honesta, que um puritano hipócrita!
Até mesmo porque, o pecado, muitas vezes, está na mente de quem vê,não de quem faz!
Mas que par de coxas...